Disputatio - um diálogo entre Pepino e Alcuíno de York
O diálogo, cuja tradução foi feita por Jean Lauand, professor da Faculdade de Educação da USP, é a Disputatio (discussão) entre o mestre Alcuíno e o segundo filho de Carlos Magno, o jovem Pepino. Quando Alcuíno em 781 - a pedido de Carlos Magno -, se encarrega da Escola Palatina, tem já cinqüenta anos de idade, enquanto Pepino, apenas cinco. Pelo próprio texto da Disputatio, pode-se supor que Alcuíno fosse oficialmente o preceptor de Pepino, o que teria ocorrido durante a primeira estada de Alcuíno junto a Carlos Magno (781-790). Trata-se, portanto, de um diálogo em que um garoto de doze ou treze anos, faz perguntas ao mestre ancião a respeito de tudo: do homem e do mundo; da vida e da morte. Nas respostas de Alcuíno, encontramos toda uma visão de mundo da época, "une sorte de digest d'une grandeur étonnante", mais preocupado com a verdade do que com a forma literária.
E, por isso, belo! Comovente! Um testemunho - datado de 1200 anos - da profunda identidade do homem de todos os tempos, pois no século VIII, como hoje e sempre: "a esperança é sonhar acordado ; a amizade, a igualdade das almas ; a fé, a certeza das coisas que não vemos; os olhos, os indicadores da alma e o homem..., uma candeia ao vento ". "E a terra continua sendo a mãe de todos (e a que a todos devora... ; o homem, um caminhante passageiro, sempre hóspede, onde quer que se encontre e a liberdade do homem, a sua inocência". Na formulação dessas verdades permanentes, esconde-se qualquer coisa de encantador, talvez pelo facto de serem dirigidas a uma criança, e há doze séculos; ou talvez pela concisão das respostas que vão directo ao essencial. Mas, obviamente, nem tudo é identidade e permanência. Igualmente maravilhoso é o contato com as diferenças, sobretudo com a imaginação que colore de magia o realismo medieval.
Jean Lauand, Faculdade de Educação da USP
P.: O que é a escrita?
A.: O guarda da história.
P.: O que é a palavra?
A.: A delatora dos segredos da alma.
P.: Quem gera a palavra?
A.: A língua.
P.: O que é a língua?
A.: O chicote do ar.
P.: O que é o ar?
A.: O guarda da vida.
P.: O que é a vida?
A.: A alegria dos ditosos, aflição dos miseráveis, espera da morte.
P.: O que é a morte?
A.: Um fato inevitável, uma incerta peregrinação, lágrimas dos vivos, confirmação dos testamentos, ladrão do homem
P.: Que é o homem?
A.: Servo da morte, caminhante passageiro, sempre um hóspede em qualquer lugar.
P.: A que é semelhante o homem?
A.: A um fruto
P.: Qual a condição humana?
A.: A de uma candeia ao vento.
...
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Post gentilmente cedido pelo adorável JG do Blog da Sabedoria .
3 Comments:
Vou linká-lo no meu blog para, quem sabe, me curar pois como terráquia hei de admitir que me interessei por sua medicina ...beijos
Só agora reparei na sua amável referência. Obrigado. Bom final de semana
Fantástico o diálogo.De fato a idade média revelou a magia da vida com palavras simples os quais traduzem o ser enquanto ser. bjos Suzana de Cássia Bolson. Estudante de filosofia, Unioeste,PR.
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