Reviver:sugestões para a mente

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sábado, outubro 29, 2005

O poder das imagens- Uma homenagem aos trabalhos de Walter Benjamin

"Com a fotografia, o valor de culto começa a recuar, em todas as frentes, diante do valor de exposição"
Walter Benjamin





No poder das telas e dos objetos,mentes se perdem à fixação do nada,do consumo das horas, da destruição do ócio e da ânsia(doença agravada pelo século que nos consome).Remédio e Doença...tudo junto.

Walter Benjamin(1892-1940), além de outros,mas em especial este, retratou de forma curiosa todo este abranger de mentalidades ao qual o início do século XX perspassou(período de grande industrialização e mecanização da produção capitalista). Na sua famosa obra: "A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica", ), através da adoção do culto ao cinema, imagens foram geradas com grande impacto na vida da população, naquela reprodução fiel da realidade vista através da câmera de uma máquina, podendo intuir um certo ar de verdade absoluta e inquestionável,numa visão “total” das coisas. Daí, engrandeceriam os estereótipos, ditados por aqueles que direcionam a câmera, na arte individual que vira política de massas, numa visão redutora e catalisante ,onde a sua técnica efemeriza-se na apreciação estética através do olho humano.

Agora pensemo-nos...




Grande parte do viés reflexivo de Benjamin pautara-se, obviamente, no aparecimento da ideologia fascista e postumamente nazista, onde principalmente o cinema através das imagens e das representações simbólicas de conceitos relacionados ao ideal da nação, mobilizariam os manipulados com orgulho e chama no peito, para que através daquela propaganda viessem a ajudar o Estado,num âmbito amplamente nacionalista,ao qual através deste ânimo,atrocidades ou preconceitos poderiam ser camuflados e plenamente gesticulados pela hipnose estatal que crê no futuro da manipulação dos ideais/conceitos em prol de um de mercados(capital),numa sociedade plenamente organizada e estruturada.

Percebe-se a atualidade de sua obra nas propagandas, meios de comunicação e Internet, apresentando seu produto, utilizando-se da imagem da beleza estética(masculina ou feminina), ou de personagens fantasiosos e tridimensionais criados no computador e até mesmo pelas músicas/cenários ao fundo. De maneira geral, algo que confere ao produto uma “nova áurea”,não mais representada pelo objeto(na visão de Benjamin),mas para o objeto, no conteúdo do produto, sistematizando/massificando o conceito através de inúmeras repetições. Nunca uma tela propulsora de imagem influenciara tanto as decisões humanas quanto nos dias atuais,tanto na questão ideológica quanto na questão utilitarista(veio a segregar cada vez mais o homem da sociedade). “A imagem é Deus”,já dizia um cineastra americano em meados de 1910....naturalmente todos querem estar lá sentados em suas confortáveis cadeiras para falar com este Deus tecnológico que cada vez mais pode tudo...

É curioso perceber na visão Benjaminiana que embora exista um pouco de marxismo em suas palavras, a sua opinião creditosa de uma aura em cada objeto produzido pelo homem termina por elaborar um conceito que vulgarizaria a arte na mão do povo. Certamente ele teria dito isso não para desqualificar a massa de trabalhadores, mas justamente pela sua crença na existência da função social ao qual cada trabalhador é direcionado no âmbito capitalista, onde apenas com a revolução(e é claro que para ele não existe uma revolução apenas no âmbito político,mas também no simbólico, na gestão das idéias ) se conseguiria inverter o processo para acabar com a vulgarização de ambos(o vulgarizado termina sendo vulgarizador).

A técnica acaba sendo cada vez mais aquela da máquina e de sua operação do que das habilidades manuais e práticas. Tal fato delimitaria a qualidade( programada para a máquina) para quantificar na teorização do modo da produção. E desta função social é que ele demonstraria sua crise política e social,proporcionada pela alienação ideológica, em algo que não está para ser percebida,uma vez que não é visualizada,posto que assimilada pelo coletivo, e em cujas dimensões soam mais como naturalidade. Numa comparação poderíamos dizer que aqui estaria a nova forma de escravidão atual não medida mais por correntes sólidas, mas por correntes abstratas do pensamento e das idéias, aos quais apenas com uma longa reflexão se chegaria a observação (perceptivização aguçada,muito além de um simples olhar).

Influenciado também por Freud e as idéias psicanalistas ,Walter B. logo percebe a dimensão do problema quanto ao impacto a que se é provocado no inconsciente e seus reais efeitos incertos ainda hoje. Daí nos perguntarmos sobre se os filmes de alta violência poderiam induzir pessoas a repetir os atos na vida real, de forma que a ficção, por demais impressionante e cada vez mais próximo do telespectador, chocaria com suas imagens, o que provocaria uma reação no indivíduo como se aquilo mostrado no cinema pudesse ser seus olhos e que lá estivessem a visualizar tudo aos mínimos detalhes(e isso é ainda exigido ao e pelo cineastra,uma vez que se autêntico, chama muito mais a atenção que o ficcional)...talvez por isso estaria no fato de que nas décadas mais atuais, houve uma excepcional incrementação dos gráficos televisivos em direção a perfeição(realidade) acrescidos por uma redução quanto ao conteúdo(enredo)...O cinema chega para impressionar/distrair/divertir(valor de exposição) e não muito para refletir; para manipular e não para interagir com o público.

Walter Benjamin grafa também de forma bastante curiosa o conceito da estética e da antiestética,uma vez que se o capitalismo forma a estética ditando as normas da sociedade, deveríamos pensar na sua antiestética,ou seja, na guerra,como prova de revolta ao modelo implantado,como já dizia uma pacifista: “Aliste-se no exército, veja o mundo, encontre pessoas interessantes e mate-as, para logo a seguir ser morto..vejam como é belo isto,no clímax que um ser humano pode chegar”. O curioso é que a guerra com sua antiestética pode ser também geradora da estética,como ponto final para o lado vencedor que conseguir melhor utilizar a técnica de controle das forças elementares sociais,vindas com a paz. Isto se fez presente quando no pós 2ª Guerra Mundial reutilizou-se a técnica do medo como justificativa para implementação de violências e construção bélicas estatais, no âmbito de uma “paz armada”. Um conflito ao medo que gera por sua vez mais medo,numa situação cíclica e perplexa de todo o espetáculo que executamos para nós mesmos. ..


Para finalizarmos a digestão a respeito deste maravilhoso autor,deixo aqui:

"O sentido da transformação é o mesmo no ator de cinema e no político(...)Mostrar ações que possam ser controladas e compreendidas (...).Esse fenômeno determina um novo processo de seleção,uma seleção diante do aparelho, do qual emergem,como vencedores, o campeão,o astro e o ditador."
Walter Benjamin.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Isto aqui é fabuloso,doutor!
Está de parabéns por todo o seu trabalho em publicar.
Sempre darei uma passadinha por aqui.
Abraços

10:25 PM  
Anonymous Anônimo said...

Muito interessante..

1:49 PM  
Anonymous Anônimo said...

As imagens são tudo hj.
Muito bom tema.

6:13 PM  

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